As Ágoras

TERRITORIALIZAÇÃO, DESCENTRALIZAÇÃO

A política cultural deve se atentar às diversidades territoriais e regionais, uma vez que esta advém dos fluxos e interações plurais – e é ela que está no centro das dinâmicas culturais. O “princípio de relevância” que mapeia e organiza esta dinâmica em diferentes níveis de institucionalidade pode permitir o desenvolvimento de políticas culturais com maior o menor grau de aproximação e representatividade local. De outro lado, a descentralização cultural – em suas diversas formas – ora horizontais, ora verticais, reforça uma rede de autonomia e interdependência entre representações e estratégias administrativas. Neste sentido, busca-se, aqui, compreender quais os rumos trilhados pelas representatividades internacionais e brasileiras, e quais os caminhos possíveis para vitalizar o acesso e a apropriação da vida cultural notadamente pela juventude e pelos agentes criadores e propositores de obras culturais.


FERRAMENTAS DE OBSERVAÇÃO CULTURAL

As políticas culturais devem prever a diversidade e a pluralidade de expressões e atores culturais. A cultura é ao mesmo tempo uma estrutura preestabelecida e uma dinâmica fluida e diversa, o que torna sua análise e sua observação complexas. Como estrutura, a cultura possui elementos estáveis que levam a concebê-la como substrato identitário e de reconhecimento de uma sociedade, a partir de levantamentos históricos de seu patrimônio cultural. Em sua característica dinâmica, a cultura é constantemente submetida à mudança e à história. De acordo com o ângulo de análise escolhido, a interpretação do quadro cultural de uma determinada sociedade também se altera. Esta interpretação é notadamente modificada de acordo com a escala da observação e do recorte empírico realizado. Quais seriam, pois, os instrumentos de observação cultural existentes – na esfera pública e privada – e qual a relevância destes para o desenvolvimento da vida cultural e das políticas culturais em seus desdobramentos?


PARTICIPAÇÃO DOS HABITANTES NA VIDA ARTÍSTICA E CULTURAL

As diversas camadas de institucionalidade da cultura jogam um duplo papel (aparentemente contraditório) na dinâmica cultural dos territórios: ao mesmo tempo em que podem propiciar as bases necessárias ao desenvolvimento de uma vida cultural rica e diversa, podem também coibir o fluxo dessa mesma vida cultural, principalmente em seus aspectos mais propositivos e urgentes, na medida em que as instâncias de representação não conseguem contemplar toda a realidade, dificultando “dar voz às vozes” na vida pública. A sociedade civil não é apenas uma usuária ou um público potencial das políticas culturais. Trata-se sobretudo de cidadãos suscetíveis de se apropriarem da e na vida cultural local em todas as suas dimensões. A política pública é, assim, compreendida em sua horizontalidade, com foco na centralidade de todos os setores da vida pública. Para além disso, há o reconhecimento de que a vida cultural é algo que antecede e atravessa as camadas de institucionalidade e que, antes de uma harmonização integral entre essas duas instâncias (vida/instituição), é desejável que, do jogo de tensões e diálogos entre elas, resulte uma vida cultural pulsante, plena de contemporaneidade e de reconhecimento das histórias culturais locais. Deste ponto de vista, a participação dos habitantes na vida artística e cultural corresponde a uma necessidade de problematização das normas democráticas. Trata-se, pois, de uma participação na tomada de decisões a fim de contemplar as realidades locais, bem como da capacidade de sustentar as divergências de modo criativo e propositivo. No setor cultural, qual o estado das coisas nas experiências a serem apresentadas?


TURISMO, CULTURA E DESENVOLVIMENTO

O turismo cultural possui um importante papel a desempenhar no diálogo transcultural. Entende-se, aqui, a necessidade de reconhecer as políticas afirmativas e, a partir delas, estar aberto para o preenchimento de lacunas existentes por meio de uma contaminação horizontal entre as diversas identidades culturais. O patrimônio cultural – material e imaterial – atrai inúmeros turistas para diversas localidades do mundo e pode constituir em um importante instrumento para o desenvolvimento econômico e cultural de um território, bem como possibilita a criação de espaços de encontro do diferente transcultural. A sensibilização, a educação e a formação de pessoas são indispensáveis para que haja a participação da sociedade civil nos processos de preservação e de valorização do patrimônio. Neste sentido, quais seriam as políticas públicas desenvolvidas para o incremento deste setor? Quais as experiências já realizadas nos países, estados/regiões e municípios concernentes? Como tornar o patrimônio cultural um fator de atratividade nas áreas da economia e da educação?


ECONOMIA CULTURAL CRIATIVA

Pensar a relação entre economia, cultura e criatividade pressupõe, logo de início, refletir sobre uma outra relação, anterior a esta: aquela entre cultura, mercado e Estado. À visão da cultura como direito garantido pelo Estado, contrapõe-se o discurso que aponta os limites de uma política cultural excessivamente institucionalizada, com todo risco latente de tutelamento, normatização e verticalização que isso engendra. Para o seu desenvolvimento, a política pública deve realizar análise de dados, fomentar os diversos setores culturais e dar visibilidade a eles, compreendendo o potencial cultural de cada território, enquanto os diversos agentes independentes do mercado cultural trabalham pela organização de pautas diversas que permitam o crescimento econômico de suas atividades. Partindo deste cenário, o debate buscará contrapor diferentes falas que problematizam o status atual da economia cultural criativa, bem como as formas possíveis de seu desenvolvimento, tendo como espelho os desafios enfrentados neste tema pelas políticas culturais francesa e brasileira.